quinta-feira, 27 de setembro de 2007

A diabetes em 2007 - Jorge Loureiro

Todo o bom e tradicional livro sobre a diabetes começa com a história da doença.

Aprende-se que se trata de uma patologia antiga, que Banting & Best foram os descobridores da insulina e muitas outras coisas.

Porém, é sabido que os conhecimentos sobre a diabetes experimentaram uma dramática evolução nos últimos anos, não só quanto aos mecanismos patológicos das doenças, mas também em relação às novas opções terapêuticas, todas elas desenvolvidas com base no próprio mecanismo fisiopatológico da diabetes.

Esta fantástica evolução nos conhecimentos foi fonte indiscutível de boas e más notícias.

Começando pelas últimas, sabe-se que embora com carácter controlável, a diabetes vem despontando como uma epidemia de graves proporções; a sua prevalência vem aumentando assustadoramente, como resultado, além do mais, do envelhecimento da população e das alterações negativas no estilo de vida.

Além disso, a doença tem-se manifestado em idades cada vez mais precoces.

Não existe, tanto quanto se sabe, um gene único que seja o causador solitário da doença, assim se frustrando o trabalho de muitos pesquisadores.

Os geneticistas acreditam, hoje, que um grupo de genes disseminados pelo genoma, em combinações variáveis e numa interacção complexa com factores adquiridos, levam ao aparecimento da diabetes e das suas complicações, cujo impacto varia de indivíduo para indivíduo.

Finalmente, tende a desaparecer a distinção clássica entre a diabetes do tipo 1 ou 2, sendo já reconhecida a do “tipo 1,5” (a diabetes auto-imune latente do adulto); têm-se diagnosticado muitos casos de diabetes tipo 2 em adolescentes e casos de diabetes do tipo MODY, onde existe uma alteração genética; surgiram, ainda, várias formas de intolerância à glicose, como as encontradas na gestação, ovário policístico e esteato-hepatite.

Entretanto, a evolução do conhecimento também trouxe boas notícias.

Por exemplo, são hoje compreendidos todos os aspectos fisiopatológicos das hiperglicémias e é possível conhecer os níveis de glicémia em qualquer momento, com tecnologias portáteis de ponta.

São compreendidas, também, as bases celulares da resistência à insulina que prediz, precede e caracteriza a intolerância à glicose.

Existem conhecimentos profundos do papel do pâncreas endócrino na diabetes e, também, do seu papel na perda progressiva ou abrupta da função das células beta.

São reconhecidos, cada vez mais, os efeitos das hormonas gastrointestinais no controle glicémico, bem como os efeitos nocivos da obesidade e do sobrepeso no controle da diabetes.

Estão avançados os estudos sobre os mecanismos de hipertrofia das ilhotas (neogénese vs replicação).

Estes novos conhecimentos resultaram em intensa actividade da indústria farmacêutica.

Por mais de meio século, os únicos tratamentos disponíveis para os estados hiperglicémicos foram as sulfas, a insulina e a metoformina.

Agora, as novas drogas procuram actuar nos múltiplos mecanismos fisiopatológicos do metabolismo glicídico.

Novas e excitantes estratégias estão a ser estudadas: por exemplo, a activação da glicoquinase, o bloqueio da acção do glucagon, o impedimento da reabsorção renal de glicose, o retardamento do esvaziamento gástrico, a insulina inalada e a oral.

A possibilidade de normalização da glicémia durante 24horas não parece longe e poderá ser alcançada em breve, um facto comparável ao conseguido com as estatinas, em relação ao colesterol.

Há, assim, que manter viva a esperança num futuro mais risonho.