segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Nova consulta terapêutica e educacional da Diabetes

O Hospital de Santo António, Porto, anunciou esta quinta-feira a criação da Consulta Terapêutica Educacional da Diabetes cujo objectivo é fornecer ao doente estratégias para uma melhor compreensão e relação com esta doença que afecta cerca de um milhão de portugueses, escreve a Lusa. Trata-se de uma missão partilhada por uma equipa composta por médico, enfermeiro, nutricionista, podologista, assistente social e psicólogo. Pretende-se que durante cerca de cinco meses, os doentes frequentem quatro sessões da Consulta Terapêutica Educacional da Diabetes (CTED) nas quais «serão abordados conceitos que, devidamente aplicados, lhes permitirão ter uma vida saudável com a sua diabetes», explicou a especialista. Segundo Isabel Mangas Palma, médica Endocrinologista e responsável pela consulta, a diabetes Mellitus (DM) é a principal causa de cegueira, insuficiência renal e doença cárdio e cerebrovascular. A CTED permite uma abordagem global do doente, permitindo identificar e tratar eficazmente problemas de várias ordens que poderão estar na base do mau controlo metabólico. «No início e no fim do processo, os doentes são avaliados analiticamente de modo a ser traçada com maior precisão a sua evolução e de forma a tornarem-se independentes no controlo da doença», acrescentou Isabel Mangas Palma. Na fase piloto da consulta foram atendidos 120 diabéticos. Os dados hoje revelados referem que 67 por cento dos doentes que integraram esta fase foram já referenciados aos cuidados do médico de família. «Isto significa que após as quatro sessões registam uma melhoria significativa do controlo metabólico e estão aptas a gerir a sua diabetes mellitus», frisou a médica endocrinologista responsável pela consulta.

Posição relativa de Portugal no tratamento da Diabetes

Portugal ocupa a antepenúltima posição entre os países da União Europeia numa classificação sobre tratamento de diabetes elaborada pela organização «Health Consumer Powerhouse» e, esta terça-feira, divulgada em Bruxelas, escreve a Lusa. O «Primeiro Índice Europeu do Consumidor sobre a Diabetes» compara os sistemas de saúde dos 27 Estados-membros da UE e ainda Suíça e Noruega, focando-se em cinco áreas essenciais - informação, direitos e escolha do paciente, generosidade, prevenção e acesso a procedimentos e resultados -, e abrangendo 26 indicadores de desempenho. Portugal, com 513 pontos em 1.000 possíveis, surge no 27º posto da classificação, apenas à frente da Bulgária (470 pontos) e Chipre (508), sendo a lista encabeçada pela Dinamarca (837 pontos), seguida pelo Reino Unido (836) e pela França (814). «Não existe uma educação formal para formar e ensinar as enfermeiras da diabetes e os pouquíssimos ortopedistas - uma área básica para evitar amputações, nem há médicos suficientes com conhecimentos específicos sobre as complicações da diabetes para os olhos. Isto leva a longas listas de espera para a cirurgia da vista", afirmou a chefe de projecto para o Índice sobre a Diabetes, Beatriz Cebolla Garrofé, comentando a situação em Portugal. O «Índice» foi compilado pela «Health Consumer Powerhouse», uma organização sueca especializada na informação aos consumidores sobre cuidados de saúde, a partir de uma combinação de estatísticas públicas e de pesquisa independente, tendo este sido centrado nas categorias de informação, direitos e escolha do paciente, acesso, prevenção, processos e resultados, e financiado pela empresa Pfizer. De acordo com dados preliminares de um estudo nacional divulgados em Junho passado, a percentagem de diabéticos em Portugal deve oscilar entre os 8,5 e os 10 por cento da população total.

Sitagliptina -utilização em humanos para tratatamento da Diabetes tipo 1.

Um estudo inédito de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (FMRP-USP), mostrou que o uso do medicamento sitagliptina, pode deter o diabetes tipo 1 em humanos. Esta é a primeira vez que a substância é testada em humanos e os resultados preliminares dos testes em dois pacientes mostraram que o medicamento permitiu a redução das aplicações diárias de insulina necessárias para controlar os níveis de açúcar no sangue. O estudo ainda está em andamento e os testes que comprovarão a eficácia do tratamento ainda devem prolongar-se por tempo indeterminado. Segundo o endocrinologista Carlos Eduardo Couri, um dos pesquisadores do estudo, o diabetes tipo 1 é uma doença auto-imune, ou seja, o sistema imunológico destrói o próprio órgão do paciente, neste caso as células do pâncreas que produzem a insulina, hormona que controla as taxas de açúcar no sangue (glicemia). “O paciente com esse tipo de diabetes precisa de aplicar injecções de insulina várias vezes ao dia, caso contrário corre o risco de morrer”. Segundo Couri, os testes com a sitagliptina estão a ser feitos com dois pacientes desde Fevereiro. Esses pacientes fazem parte de um grupo de 23 voluntários que participam numa pesquisa inédita no mundo para controle da diabetes tipo 1 com células-tronco, iniciada em 2003. “Com as células-tronco nós conseguimos suspender o uso da insulina na grande maioria dos pacientes, com muito êxito”. Dos 23 pacientes, 20 pararam de usar a insulina em algum momento. Desses, 14 estão continuamente sem usar a insulina, em média há dois anos. Entretanto, os dois pacientes, um há quatro anos e outro há pouco mais de três anos sem tomar insulina, precisaram de retomar seu uso. Foi nesse momento que os pesquisadores resolveram experimentar nessas pessoas a sitagliptina, medicamento novo que vem sendo usado com sucesso em pacientes da diabetes tipo 2. “Esse remédio faz com que as células do pâncreas que produzem insulina se proliferem e impede a actuação do glucagon, que é a hormona rival da insulina”. Couri afirmou que depois de dois meses de utilização desse medicamento nesses pacientes, os pesquisadores conseguiram suspender novamente a aplicação da insulina, o que incentivou os médicos a testarem o remédio em outros pacientes do grupo. O paciente toma a insulina associada à sitagliptina por via oral uma vez ao dia, ao acordar. “Todos eles já estão com redução de dose da insulina aplicada durante o dia. Eles tomam os dois medicamentos e à medida que o tempo vai passando vamos percebendo que eles precisam cada vez menos de insulina”. Mesmo assim Couri reforçou que o estudo ainda não foi concluído e está apenas no início, portanto, o medicamento só deve ser utilizado pelos voluntários do estudo, que são acompanhados pela equipe médica responsável pela pesquisa. “Não sabemos o que isso vai trazer daqui a dez anos para os pacientes. Nada disso é garantido, por isso passa pelo Comité de Ética e os pacientes assinam um termo. E nós evitamos falar em cura para não criar falsas expectativas”. O endocrinologista disse ainda que para que a sitagliptina seja indicada para os pacientes do diabetes tipo 1 é necessário que os testes sejam feitos num grande número de voluntários.